"A arte poética pertence ao ser bem-dotado pela natureza (euphyoûs) ou ao louco (manikoû); porque os primeiros se modelam facilmente (euplastoi); os outros saem de si mesmos (ekstatikoi)."
A Poética é a música da alma. Podemos captar o verso arcano,
sentir os eflúvios do passado distante, escutar as vozes de caçadores em volta
da fogueira ao cair da noite recitando suas palavras, cânticos, sons guturais
cheios de ritmos, em que imitam a fala das formas da natureza, recitam as aves,
o vento, o murmúrio dos riachos, os barulhos ameaçadores dos predadores, os
movimentos das manadas que perseguem em busca de alimento. São gestos amplos,
movimentos de dançarinos que remontam as aventuras do dia para os convivas que
aproveitam em silencio respeitoso a mimica do bardo contador de histórias. O
bardo desfila suas palavras que se parecem com os sons cotidianos da lida, mira
o vazio como se observasse à presa, conta chistes do dia que tiram gargalhadas espontâneas
do grupo, inventa expressões que vão se incorporar na cultura do cotidiano,
lembra os espíritos que habitam alhures e são proteção e advertência aos jovens
ainda infantes. Todos observam solenes
as palavras sábias e belas que nascem desse mágico, indispensáveis para os
momentos de alegria, consolo constante nos tempos de fome e guerras.
Assim fazem os
Aranda, povo autóctone da Austrália. Suas canções que remontam o início dos
tempos servem para alimentar o fervor
dos guerreiros que planejam o massacre dos oponentes. Logo o chefe que vai fazer a guerra ordena
que os guerreiros se pintem com seus ornamentos, e estes decoram seu peito e
abdômen com raias negras e brancas bordeadas. Os guerreiros aliados que chegam
mostram uma decoração corporal similar. Os guerreiros dos diferentes grupos se
saúdam entre si gritando: "Wa wa wa bau". Então o chefe que
fez a convocação dos aliados diz: "Esta noite dormiremos aqui, amanhã
sairemos para vencer os inimigos". Durante toda a noite os guerreiros
se inflamam de ardor bélico cantando suas canções de guerra. Strehlow traduziu
um desses cantos:
“De onde são esses que vieram de tão longe
Se pintaram de ébano
Golpeia seu pênis com o osso afiado
coloca o osso na borda do pênis
O sangue flui como uma torrente do grande pênis
e encharca os ombros de quem está sentado adiante
Na minha própria zarabatana
coloco o dardo, coloco o dardo
Na minha própria zarabatana
coloco o dardo, coloco o dardo
A zarabatana dispara o dardo, dispara o dardo;
o dardo alcança o inimigo, alcança o inimigo
O dardo com seu gancho
rasga aos inimigos
O dardo se crava, se crava
produzindo um mortal estalo
lhe fere de morte, lhe fere de morte
e não pode tirar o dardo da ferida
O ferido é derrubado como um jackarro (ave pernalta)
o dardo alcança o inimigo, alcança o inimigo
O dardo com seu gancho
rasga aos inimigos
O dardo se crava, se crava
produzindo um mortal estalo
lhe fere de morte, lhe fere de morte
e não pode tirar o dardo da ferida
O ferido é derrubado como um jackarro (ave pernalta)
desmorona igual ao céu
Lhes tiraremos as entranhas e comeremos sua manteiga
depois de tirarmos sua pele
rasgaremos suas tripas”
depois de tirarmos sua pele
rasgaremos suas tripas”
Os cantos são referentes ao ritual que praticavam os guerreiros na noite anterior ao ataque: com um osso afiado se rompia a ferida da circuncisão que na Austrália Central é realizada na uretra no sentido longitudinal (subincisão) no rito de passagem para a idade adulta e deixam os homens fluir o sangue mutuamente sobre o ombro direito com o objetivo de fortalecer o braço correspondente. Por outro lado esse ritual preparatório de doutrinamento serve para familiarizar o guerreiro com o ato da morte. E como não podia deixar de ser a canção possui referencias explicitas ao canibalismo.
Rita no sentido
sânscrito, de mais sagrado, raiz semântica de ritual, que também conota o
sentido de ritmo, o efeito mágico produzido nos crentes pelos cânticos e hinos,
a cadencia que afeta o objeto, mas na realidade provoca um encantamento no
sujeito, isto é, uma intensificação do sentimento vital, um aumento da
intensidade, uma libertação, um restabelecimento do potencial psíquico que canaliza a força extraordinária
da libido para a comunidade realizar seus feitos de glória sem culpa.
Transita a
humanidade por esses caminhos, sem exceção, nos quatro quadrantes onde habita,
seus bardos cantam os mesmos temas recorrentes, os feitos de glória e sangue, o
rapto das mulheres, a luta ancestral dos clãs, a vendeta eterna que glorifica
seus heróis que padeceram a morte e o devoramento nas mãos dos inimigos e que
devem ser vingados e o culto aos espíritos, as proto-divindades, esses
fundadores semidivinos, patriarcas que permanecem na memória do bando e devem
ser lembrados continuamente para não padecerem a morte definitiva do esquecimento
no érebro.
Durante centenas de
anos os versos foram sendo forjados, mantidos os mitemas e arquétipos de
encorajamento da alma do homem como manifestação distinta, particular de sua
própria humanidade perante a Criação. Característica impar daquele que mimetiza
seu universo à própria imagem e através da harmonia dos versos ordena a
Natureza externa e a particular em mágica sintonia.
A evocação do divino
é a evolução natural da poética que se sabe inspirada pelos deuses e participa
do sagrado como coreografia da participação mística do individuo em seu caminho
pela vida. O guardião da palavra possui
posição privilegiada na tribo. Na casa dos homens ele recita as antigas
histórias que são interditas para as crianças e mulheres. Como xamã interpreta a lenda primordial da
origem, o mistério que só pode ser revelado após uma dolorosa iniciação. Cada
ritual detém um cântico, sua poética é revelação divina que o xamã conserva e
pretende inalterada como tradição oral.
Com a formação das
cidades estado a poética se formaliza na inscrição nos muros dos templos e no invento da escrita que dá forma aos versos sagrados e
profanos. No Egito e no Crescente Fértil a escrita hieroglífica e cuneiforme
registrada em placas de argila pelos escribas, que iria evoluir posteriormente
para a escrita fonética, e na China os ideogramas
desenhados nas pranchas de bambu servem de contenção, espaço limite para a
criação poética em oposição a transmissão oral, mais dinâmica e flexível,
transformação que estabelece a erudição dos textos, e privilegia os detentores
do conhecimento da nova ferramenta. Os eruditos
estabelecem regras para a versificação e pretendem deter o
conhecimento e estabelecer o valor estético através da forma.
Na Grécia Antiga após o "Período das Trevas" que
antecedeu o período Clássico, surgiu o mito de Homero, o bardo cego, pai da
obra que estabeleceu a origem dos povos da península que na forma jônica deu
vida aos seus Atridas e reis míticos insulares, personagens heroicos de uma era
perdida. Depois de centenas de anos de transmissão oral seus versos são
registrados pelos helenos e passam a personificar o mito de formação da hélade.
A métrica empregada é o hexâmetro,
verso tradicional na épica grega. É o
apogeu da manifestação poética de origem lendária atribuída ao poeta arcano,
andarilho que ensinava em versos o passado mítico dos micenos e por milenios
esses povos consideraram suas estrofes expressões literais do seu passado
histórico de forma indiferenciada. Nesse contexto passou a representar a
temática oficial que apesar dos filósofos peripatéticos e cinicos era texto
obrigatório entre os doutos eruditos e nas classes de então.
Sua obra
compreende a temática recorrente dos
povos indo arianos, o rapto de mulheres, a vingança, os combates singulares, os
heróis semidivinos e a vontade leviana dos deuses que motivam as ações humanas
e castigam a soberba dos incautos soberanos que transgridem interditos, a
Ilíada é um tema universal entre os Antigos e como obra prima da criação poética
que chegou até nós seu pathos ainda
reverbera no coração dos homens no mundo todo.
Príamo, o
personagem que personifica o rei da infaustosa Ilium e que perdeu sua fortuna
pela imprudência dos filhos Páris e Heitor, o pai que por nobreza e amor
paternal é capaz de se humilhar para o assassino do próprio filho para
recuperar seus despojos, Páris, o mancebo que rapta a volúvel Helena do marido
e com esse ato impensado interrompe uma frágil trégua com seus inimigos jurados
e leva a desgraça para sua cidade por paixão e luxúria. Heitor que reafirma sua
condição de herói humano, o “bem amado” que se sacrifica pela sua cidade e
enfrenta a morte certa com coragem e determinação. Aquiles, o guerreiro
semidivino, herói fundador, super homem invulnerável equiparado a Heracles
e Teseu que disputa o saque com os
Atridas e tomado pela cólera em função da morte de seu mancebo Pátroclo, se
atira ao combate e ultraja o corpo do inimigo morto, que lutou com valor heróico até o fim, mesmo
sabendo não ter nenhuma chance de vitória contra o semideus. Esses são os
elementos dramáticos e personagens que seriam imortalizados e que falam da
nossa humanidade desde os primórdios dos tempos. Eles são os eternos heróis da
tribo e portanto o são também da cidade estado e se transformaram em arquétipos
representando o que existe de pior e melhor em nossa particular humanidade.
Aristóteles foi o primeiro estudioso conhecido da questão. É sua a classificação da poética: “A epopeia, o poema trágico, bem como a comédia, o ditirambo
(hino coral em louvor a Dioniso), ... a arte do flauteiro e a do citareiro,
todas vem a ser, de modo geral, imitações.” Como aqueles que imitam pessoas
em ação, estas imitam pessoas necessariamente boas ou más. Em seu estudo realça
a noção de enlevamento, de arrebatamento, de catarse, de entusiasmo como
sensações necessárias ao bom cumprimento da tarefa da obra.
É nas antigas
interpretações sagradas que se inspira a arte popular para criar sua própria
versão nas tragédias e comédias encenadas em principio nas praças e mercados
antes de ocupar os anfiteatros e se institucionalizarem nas coisas do poder. Os dórios reivindicam para si tanto a
tragédia quanto a comédia. Os do Peloponeso também acreditavam que a origem tenha
sido naquela região pela semelhança dos nomes
que se dá a comédia e a tragédia,
na sua linguagem, diferente de outros povos gregos. Dão eles o nome de “comas” aos
arrabaldes. Os comediantes vagueavam pelos arrabaldes, tocados com desprezo
para fora da cidade o que lhes granjeou esse nome. Segundo o autor a palavra
drama significa ação, de “dran”.
Enquanto no Oriente o sagrado e o profano se confundem, na Grécia e em
Roma já existe a tendência de separação das manifestações culturais, verdadeiro
processo lobotomizado, que seria
definitivo nos últimos dois mil anos no Ocidente. Entretanto os temas seguem
uma tendência de atrelamento aos aspectos religiosos e políticos vigentes na
polis, pois a pena para os inimigos da fé oficial e política era cruel e vil.
A tragédia Ática atinge seu apogeu criativo como resultado
da constatação humana sobre o efêmero da existência e sobre a fragilidade do
ser perante o capricho dos deuses e as forças titânicas da natureza, a
vulnerabilidade da vida como um fio tênue tecido pelas parcas que comandam o
destino até mesmo dos deuses do Olimpo. Suas tramas contam as vidas de monarcas
poderosos sujeitos às paixões insufladas pelas divindades e suas indignidades
que foram transformadas em narrativas pelos grandes dramaturgos gregos com
maestria.
São nas antigas formas de barbárie trazidas pelos dórios,
povos indo arianos, os seus cultos milenares de sangue e questões sucessórias
de seus reis que os gregos irão se inspirar para dar vida aos seus personagens,
sombrias existências de seres predestinados que aguardam os movimentos inexoráveis
das parcas e aceitam impassíveis seus destinos.
Nietzsche pretendeu em sua obra: “O Nascimento da Tragédia”,
ao analisar as obras Clássicas, estabelecer uma dualidade, um “coincidentia
oppositorum”, um antagonismo de opostos na essência de seus temas, do ponto de
vista estético, e busca idealizar dentro dessa visão um passado cultural
elevado, de superioridade moral do panteão artístico europeu baseado na cultura
greco-latina. Mas sua concepção grandiosa do passado clássico estendeu “um
manto estético enganador sobre o problema”, segundo Jung. Assim por exemplo
quando comenta sobre as orgias dionisíacas Nietzsche observa: “Em quase toda a parte, o motivo central
dessas festas era constituído pelo desbordamento sexual que, em seu arrasador
caudal, remodelava a estrutura familiar e seus veneráveis preceitos. Aí se
deixava à solta, precisamente, as mais selváticas feras da natureza, até se
atingir essa horrível mistura de volúpia e crueldade”.
Nietzsche considerava
entre Apolo e Dioniso a oposição entre o espírito e a carne. Ele estabelece como valor oposto o Apolo
Délfico, figura civilizadora, viril, força de ordenamento, o deus da forma, da
forma plástica em arte, da forma racional no pensamento, em oposição ao instinto da primitiva deidade
euro asiática associada a embriaguez do vinho transformado em soma que tanta
influência perturbadora impregnava a cultura grega e se difundia por todo o
mundo conhecido.
Jung, entretanto expõe essa visão idealizada de Nietzsche da
arte grega, como motivo subliminar de entesouramento do passado Clássico,
natural do eurocentrismo da época, e estabelece um padrão com a própria
realidade psicológica do ser humano na atualidade, onde as religiões de bondade
proliferam, mas a crueldade religiosa subsiste, colocando o individuo no seu
devido lugar como agente cultural proliferador e afirma: “o grego...sentia-se mais a vontade nesse estado (dionisíaco) em
virtude da própria essência bárbara, privado da individualidade, integrado em
seu elemento coletivo (com a concomitante renuncia de seus fins individuais),
enfim, unido com ‘o gênio da espécie’,
inclusive da natureza”. (“Tipos
Psicológicos” – Carl Jung - Capitulo III
– “O Apolíneo e o Dionisíaco” ) Assim o cidadão da poli se enchia de
entusiasmo, que no sentido etimológico significa “estar cheio de deus” e se
envolvia na catarse do festival canalizando sua energia para o livre culto da
deidade.
É, portanto na catarse de sua crença onde se abriga o valor
estético da tragédia. O ditirambo evoluiu da tradição totêmica com
identificação plena em antepassados míticos ou com o símbolo animal da tribo e
possui clara referencia aos antigos rituais omofágicos como interpretação
simbólica do devoramento da carne através do enredo intrincado da tragédia. O
culto ao deus tinha clara identificação entre os trácios e dórios, como tema
recorrente, com poderosos influxos religiosamente estimulantes da antropofagia
ritual.
E comenta Aristóteles em sua poética:
“Parece, de modo
geral, darem origem à poesia duas causas, ambas naturais. Imitar é natural ao
homem desde a infância – e nisso difere dos outros animais, em ser o mais capaz
de imitar e de adquirir os primeiros conhecimentos por meio da imitação – e
todos tem prazer em imitar.
Prova disso é o que
acontece na realidade: das coisas cuja visão é penosa temos o prazer de
contemplar a imagem quanto mais perfeita; por exemplo, as formas dos bichos
mais desprezíveis e dos cadáveres.” (
Poética Clássica – Aristóteles – Ed. Cultrix – 12 ed.)
O fato de, a tragédia ter surgido dessa ritualidade,
principal ponto de relevo em relação a sua origem iniciática pretendida pela
sua cultura particular que os antigos desenvolveram é questão que se mantém impermeável, por
inconsciente, e pouco entendida ao estetismo do estudioso moderno. Os romanos
tinham uma percepção cultural mais próxima desses valores estéticos e
incrementaram nos espetáculos de gladiadores os elementos de vida e morte
comuns a essa temática, oriunda dos seus rituais fúnebres, transformada em
demonstração pública de catarse numa poética marcial própria. Mas do ponto de
vista subjetivo, psíquico e orgânico, ainda subsiste pelo tanto que presenciamos, em escala cada vez maior, e convivemos com a brutalização das imagens nos
processos audiovisuais contemporâneos, como mera imitação da realidade.
Em Satiricon, obra
criada por volta de 60d.C. por Petronius, podemos visualizar a
popularização da temática clássica levada ao extremo como obra que agrega os
elementos da comédia e da tragédia em um ritmo alucinante ainda sem o vício do
preconceito da civilização judaico cristã. Expoente da literatura narrativa seu
clímax sem dúvida alguma é o banquete onde Trimalchio o escravo liberto que
adquiriu grande fortuna serve as mais caras especiarias e pratos para os
convivas, uma descrição dos costumes de então. Sua contemporaneidade narrativa
garantiu a imortalidade dessa farsa que descreve sob a desculpa do relato dos
hábitos de então personagens que são humanos e não heróis semidivinos. Sobre a arte poética Petronius utiliza a voz dos seus
personagens para externar a crítica de uma sociedade que se imaginava erudita,
pois detinha o poder do império:
“Falsas vocações,
quantos jovens se sentiriam inclinados para a poesia – disse Eumolpo. Mal
conseguindo ajustar um verso nos seus pés e pôr num período uma ideia mais ou
menos delicada, já acreditam ter atingido o sumo do Helicão. É assim que,
fugindo da agitação do fórum, veem-se advogados refugiar-se no calmo asilo da
poesia, como num porto mais seguro, supondo que uma epopeia é mais fácil de
construir que um discurso salpicado de ditos cintilantes. Os altos espíritos,
ao contrário, não apreciam esses vãos ornamentos, e a mente nada pode conceber
ou produzir de valor se o vasto caudal da literatura não a tiver inundado com
suas águas fecundantes. É preciso fugir daquilo que eu chamarei de trivialidade
de expressão, e escolher as suas palavras fora das da plebe, observar, enfim, a
asserção de Horácio”:
‘Odeio o vulgo profano
e dele me mantenho afastado’ (Odes I, 1.)
“É preciso, além
disso, evitar os pensamentos que parecem destacar-se do corpo da oração, e
fundi-los na própria trama do verso onde brilharão com todo o seu esplendor.
Testemunhos disto oferecem Homero e os líricos, o romano Virgílio e as
descobertas felizes de um Horácio. Quanto aos outros, eles não viram sequer a
estrada que conduz a poesia, ou, se a viram, recearam nela entrar”... ”Pois não
se trata somente de encerrar no verso a simples descrição dos acontecimentos...mas
é mister que através das mil peripécias das intervenções dos deuses e do
tormento fabuloso das belezas do estilo, a imaginação possa expandir-se
livremente, de modo a reconhecer-se na obra antes o delírio profético de um
espirito inspirado do que a árida verdade de uma narrativa presa religiosamente
aos testemunhos”...
As concepções elitistas do personagem de Petrônio que
parafraseia Horácio é um sentimento que será sempre recorrente entre os doutos.
Os eruditos consideram deter o
conhecimento, fixar seu enquadramento em normas pré-estabelecidas e condicionar os valores estéticos através da
forma no que denominam cultura civilizada em oposição à estética bárbara.
Tendência que mantem adeptos ferrenhos até nossos dias albergados em academias
literárias e confrarias de classe.
Mas com teimosia revigorada o vulgo profano produz sua poética
própria, inscrita nas paredes dos templos e lugares públicos, continua criando
suas músicas e poesias sem a preocupação de agradar as elites, sempre a
proferir heresias poéticas livremente. Na maioria em obras anônimas que muitas
atravessaram os tempos através da transmissão oral e em libelos furtivos
cantados em prosa e verso. Mas são justamente as obras populares de ontem que livres de amarras literárias formais definem as grandes transformações da poética através dos tempos.
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