A Átis - Safo
Não minto: eu me queria morta.
Deixava-me, desfeita em lágrimas:
"Mas, ah, que triste a nossa sina!
Eu vou contra a vontade, juro,
Safo". "Seja feliz", eu disse,
"E lembre-se de quanto a quero.
Ou já esqueceu? Pois vou lembrar-lhe
Os nossos momentos de amor.
Quantas grinaldas, no seu colo,
— Rosas, violetas, açafrão —
Trançamos juntas! Multiflores
Colares atei para o tenro
Pescoço de Átis; os perfumes
Nos cabelos, os óleos raros
Da sua pele em minha pele!
[...]
Cama macia, o amor nascia
De sua beleza, e eu matava
A sua sede" [...}
Cai a lua, caem as plêiades e
É meia-noite, o tempo passa e
Eu só, aqui deitada, desejante.
— Adolescência, adolescência,
Você se vai, aonde vai?
— Não volto mais para você,
Para você volto mais não.
Safo (613 a.C - 570 a.C) Poeta grega, nasceu ou em Eressos ou em Mitilene na ilha de Lesbos, no mar Egeu. A tentativa de realçar suas relações como proibidas com outras mulheres se origina no medievo quando seus versos foram tratados como pecaminosos pelos católicos. Ao que consta teve relações com homens e com mulheres, mas as suas preferências românticas iam para estas últimas. As referências morais da Idade Média não se ajustam a liberdade de seus poemas escritos no período Clássico e que permanecem com absoluta atualidade até hoje. Da sua poesia sobreviveram 650 versos, e só um poema completo. Safo liderava um grupo de mulheres que adoravam Afrodite, a deusa do amor.
A uma mulher amada
Ditosa que ao teu lado só por ti suspiro!
Quem goza o prazer de te escutar,
quem vê, às vezes, teu doce sorriso.
Nem os deuses felizes o podem igualar.
Sinto um fogo sutil correr de veia em veia
por minha carne, ó suave bem querida,
e no transporte doce que a minha alma enleia
eu sinto asperamente a voz emudecida.
Uma nuvem confusa me enevoa o olhar.
Não ouço mais. Eu caio num langor supremo;
E pálida e perdida e febril e sem ar,
um frêmito me abala... eu quase morro... eu tremo.
Para Anactória
A mais bela coisa deste mundo
para alguns são soldados a marchar,
para outros uma frota; para mim
é a minha bem-querida.
Fácil é dá-lo a compreender a todos:
Helena, a sem igual em formosura,
achou que o destruidor da honra de Tróia
era o melhor dos homens,
e assim não se deteve a cogitar
em sua filha nem nos pais queridos:
o Amor a seduziu e longe a fez
ceder o coração.
Dobrar mulher não custa, se ela pensa
por alto no que é próximo e querido.
Oh não me esqueças, Anactória, nem
aquela que partiu:
prefiro o doce ruído de seus passos
e o brilho de seu rosto a ver os carros
e os soldados da Lídia combatendo
cobertos de armadura.
O Amor
O Amor agita meu espírito
como se fosse um vendaval
a desabar sobre os carvalhos.
A amada
Ventura, que iguala aos deuses,
Em meu conceito, desfruta
Quem, junto de ti sentada,
As doces falas te escuta,
Goza teu mago sorrir.
Quando imagino em tal gosto
ë minha alma um labirinto;
Expira-me a voz nos lábios;
Nas veias um fogo sinto;
Sinto os ouvidos zunir.
Gelado suor me inunda;
O corpo se me arrepia;
Foge-me as cores do rosto,
Como ao vir da quadra fria
Entra a folha a desmaiar.
Respiro a custo, e já cuido
Que se esvai a doce vida!
Arrisquemo-nos a tudo...
Contra uma angústia insofrida
tudo se deve tentar.
Adeus
Sinceramente, a minha vontade é morrer.
Por entre abundantes lágrimas,
afastou-se de mim e disse-me:
"Que horrível sofrimento,
Safo! É verdadeiramente contrariada que te deixo."
Eu respondi-lhe:
"Vai, não chores, e lembra-te de mim,
bem sabes como te amei.
Se não, quero ao menos
que lembres tudo o que
de belo e doce nós vivemos.
Tantas coroas compostas juntamente
de violetas, de rosas e açafrão
com que, a meu lado, te enfeitavas
e tantas grinaldas tecidas
de belas flores, entrelaçadas
à volta do teu colo tenro
e tantas ricas essências e o
régio perfume com que
tu impregnavas a minha cabeleira
e, deitada, num leito
macio, junto a mim,
o desejo aplacavas...e nem casamento nem
disputa nem sequer correntes de água
podiam destruir os laços pelos quais estamos unidas.
Um jardim
Vem de Creta até este templo
sagrado, onde há um gracioso bosque de
macieiras e altares onde arde
o incenso.
Aqui, a água fresca canta através dos ramos
das macieiras, a sombra das roseiras
cobre todo o recinto e das trémulas folhas
escorre um sono pesado.Aqui, o prado onde pastam os cavalos
já se cobriu de flores primaveris e as brisas
sopram docemente [...]
[...]
Vem, Cípris, coroada de grinaldas,
e, graciosamente, nas douradas taças
o néctar ligado aos festins
derrama
Adeus
Sinceramente, a minha vontade é morrer.
Por entre abundantes lágrimas,
afastou-se de mim e disse-me:
"Que horrível sofrimento,
Safo! É verdadeiramente contrariada que te deixo."
Eu respondi-lhe:
"Vai, não chores, e lembra-te de mim,
bem sabes como te amei.
Se não, quero ao menos
que lembres tudo o que
de belo e doce nós vivemos.
Tantas coroas compostas juntamente
de violetas, de rosas e açafrão
com que, a meu lado, te enfeitavas
e tantas grinaldas tecidas
de belas flores, entrelaçadas
à volta do teu colo tenro
e tantas ricas essências e o
régio perfume com que
tu impregnavas a minha cabeleira
e, deitada, num leito
macio, junto a mim,
o desejo aplacavas...e nem casamento nem
disputa nem sequer correntes de água
podiam destruir os laços pelos quais estamos unidas.
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